quarta-feira, 29 de março de 2017

Se a expansão do universo se deve à maior explosão já conhecida, o Big Bang, poderia essa aceleração ser causada pela segunda maior explosão conhecida pela Astronomia atual, as supernovas?

As supernovas não se comparam em energia com o Big Bang e o Big Bang não foi uma explosão.
Não sabemos se o universo teve uma origem ou se existe desde sempre - boa parte dos físicos acredita que o universo se originou com o Big Bang, mas isso ainda não foi totalmente estabelecido. Sabemos que ele está em expansão há cerca de 14 bilhões de anos e o inicio dessa expansão ganhou o apelido de Big Bang, cuja tradução literal é 'grande bum'. Em português, é mais comum usarmos 'grande explosão', o que nos leva ao erro de achar que o que ocorreu no passado foi de fato uma explosão, quando, na verdade, foi o início da expansão do universo.
Uma das grandes dúvidas da cosmologia do século era saber se o universo iria se expandir para sempre. O modelo vigente previa que, a partir do Big Bang, o universo estaria sujeito apenas à força da gravidade, que é sempre atrativa. Ou seja, a gravidade, aproximando as coisas entre si, serviria como um freio cósmico para a expansão global do universo. A pergunta básica era: quanta massa há no universo? Muita massa implicaria intensa interação gravitacional: o 'freio' seria forte e o universo pararia de se expandir no futuro. Pouca massa significaria o oposto: o 'freio' seria fraco e o universo se expandiria para sempre.
Como é mais fácil medir as velocidades de expansão do que a quantidade de masa do universo, o raciocínio se inverteu com o tempo. Foram feitas observações para descobrir a taxa de desaceleração do universo, que nos diria, por consequência, a quantidade de massa existente. Mas havia uma certeza implícita nesse raciocínio: forte ou fraca, o 'freio' gravitacional era o único agente atuando no sistema. Em 1999, porém, houve uma reviravolta. Observações de supernovas indicavam que o universo estava acelerando em sua expansão. Não só o freio' não estava funcionando, mas havia também um 'acelerador'.
O fato de supernovas terem sido a base dessas observações pode levar algumas pessoas a pensar que essas explosões são a causa da expansão acelerada. Não é verdade. A energia liberada pelas supernovas é insignificante se comparada ao universo como um todo. A energia que causa a expansão acelerada é algo novo em nossos modelos e ainda desconhecido em sua natureza. Por falta de nome melhor, essa energia misteriosa tem sido chamada de energia escura.
Conhecemos o seu efeito (a expansão acelerada), mas não a sua causa (o que é a energia escura). Ainda assim, podemos descartar alguns agentes, como as supernovas, que não têm energia suficiente para explicar a expansão do universo.

Alexandre Cherman (Fundação Planetário do Rio de Janeiro).

Revista Ciência Hoje, agosto de 2013.